02/03/2014

''Waking Life''

- Que tal emagrecer um pouco, uns poucos quinze quilos ou mais? Que tal deixar que tua mente se alucine com fumos, papeis e chás? Que tal adoecer um pouco, deixar empalidecer a pele, fraquejar o corpo, tontear a cabeça, escurecer as vistas? Volte, meu monstrinho, volte para meus braços congelados, volte para a escuridão. Volte para onde ninguém te escuta, onde tu não vê mais possibilidades ou esperança de vida. Volte para o sanatório, volte para nós. Estamos com saudade, você sabe que não te abandonamos, nunca. Mesmo que tu nos abandone, sempre estaremos no baú em que tu nos tranca. Sabes que tua dor é logo recompensada na balança e nos números. Deixe que eu afague teus cabelos, lhe abrace nas noites em que suas lágrimas quiserem sair, deixe que elas saiam e corram pelo seu belo rosto, deixe teu corpo apagado, ninguém irá lhe notar. Deixe que teu silêncio fale mais que tuas palavras: assim, esquecerão o som da tua voz, e esquecerão de ti. Deixe tuas mentiras, teus monstros saírem logo de uma vez: tu estás sozinha, ninguém pode te proteger, ninguém está próximo proteger-te de nós. Tu sabes: somos tua melhor proteção, teus melhores amigos, somos a tua mente e teu corpo. Tua melhor inspiração: tua melhor criação vem através da dor. Teu melhor desempenho e notas vêm da dor. Esqueça sorrisos, esqueça paz: volte do lugar de onde nunca deveria ter saído, de nós. 

- Não, obrigada. Não sinto mais falta das mentiras que contam para mim. Eu descobri uma vida melhor do que vocês me oferecem. Por mais que tinha conforto em tudo isso, e que me agradava, na minha nova vida eu sou feliz apesar das circunstâncias. Amigos? Eu não preciso de muitos, preciso de algumas pessoas pra acompanhar meus gostos, não sei ainda como ajudar alguém, coisa que tenho em mim há muito tempo, mas aos poucos aprendo a ajudar. Eu não quero mais meu corpo (como sempre), porém, não por não gostar dele, mas por saber que é só uma passagem. Ele é mutável! Por que ficar preso a algo que não existe? Não estou presa a um objeto, estaria presa a uma lembrança, e se isso acontecer, deixarei de viver as coisas, mesmo que pequenas, do que acontece hoje. Tenho muita saudade de certas pessoas que são fundamentais na minha vida, mas nem por isso deixo de amá-las ou fico sofrendo. Se estamos separados, é porque preciso melhorar em algo para que eu possa fazê-lo feliz, deixar de lado meu egoísmo. 
Não preciso de alucinógenos: tenho meios legais que fazem coisas mais fantásticas do que vocês me proporcionavam. Sentimentos e sensações. Coisas que meu corpo produz, que posso induzir que meu corpo produza, sem um estímulo tão óbvio. As pessoas ainda não me enxergam: não ando na moda, meu corpo não tem curvas perfeitas, e não é simétrico. Eu ainda sei me esconder, basta que o som do meu instrumento ultrapasse as barreiras físicas. Então, me livro disso. Não preciso que meus monstros saiam, eles estão andando comigo, eu os domestiquei, e agora, eles me temem. Uma boa criação vem através da boa técnica. Inspiração é algo passageiro, técnica, se aprimora. Não me esquecerei do que um dia uma pessoa me ensinou: a sorrir sem medo, a ser criança novamente - mesmo que ela não esteja mais aqui. Eu aprendi, e mesmo que sozinha, irei. Não preciso de monstros ocupando minha cabeça, não preciso de doenças ou tristeza. Essas coisas só existem no pensamento. A vida, saúde e felicidade são coisas naturais. Não precisa de esforço. O único esforço necessário é não deixar que o comodismo assuma o controle. Busco a naturalidade. Busco a verdade, sinto o caminho, e deixo que as coisas aconteçam como devem acontecer. Espero o tempo vir, e vivo.

- Você está nos matando?

- Não escutei nada mais fora minhas últimas palavras.

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