07/03/2014

   Ela não me disse nada. Nem vi seus olhos dessa vez, nem suas garras. Suave como uma neblina, acomodou-se. E como uma tempestade quer transtornar minha vida. E até que de começo parece-me afável, que será minha protetora. Ledo engano.
  Presenteou-me com três quadradinhos, e chá. E depois de estudos, um pouco cansada - e precisando de alimento - com o frio invadindo meu corpo e este já não queria mais ficar de pé, presentou-me outra vez, com um pão de queijo e um canudo de doce de leite - Olha, como ela é carinhosa, recebi até um doce por merecimento ao esforço. E no resto da manhã, da tarde e da noite, começou a importunar-me. Começou a costurar meus lábios, trancou minha língua entre os dentes. Começou com suas mentiras. Começou a observar e absorver-me - e querer os ossos, compulsivamente. Aqueles momentos e sensações queriam me levar embora, queriam meu rosto pálido, as olheiras estampadas no rosto, o corpo mal aguentando seu corpo, queriam que as dores generalizassem para que meu esquecesse, para que eu desviasse do caminho.
   Mais uma mentira: eu não tive fome, eu não tive sede, não tive vontade da chuva, não tive vontade de mim, de ler, desenhar, tocar. Ela quer iludir-me.
   Não. Eu preciso me alimentar. Eu preciso viver. Eu preciso, pois começo a falhar. Nas minhas palavras faltam letras, nos estudos falta atenção. Não posso deixar que a chuva leve meus sonhos embora, preciso que ela o traga novamente.
  Oura mentira: o silêncio são suas melhores palavras, seus olhares sua melhor expressão. Não gaste sua energia à toa. Eu preciso de você. 'Não, você não vive mais em mim, não precisa ouvir suas mesmas mentiras. Obrigada pela atenção. Mas atenção é uma das últimas coisas que desejo - principalmente de você.''

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 o mais difícil da vida é vencer a si mesmo. o que isso significa? significa abdicar de prazeres momentâneos para colher um e se transformar...