06/03/2014

    Um fantasma que não tenho medo de encontrar nas noites minhas noites de insônia nem nos meus sonhos. Um fantasma que procuro-o todas as noites para voarmos juntos. E quando sua face preenche meus pensamentos, num voo leve me entrego, de olhos fechados pego tuas mãos e voamos por escuros campos verdes, passando por matas, ouvindo uivos, e a lua refletindo sua luz intensamente no teu rosto límpido, com a expressão mais pura que pude presenciar. Nossos braços unidos formam um corpo, onde cada cérebro sente cada sensações, transmitindo e elevando-se ao máximo. Nos teus olhos me encontro, vou até o mais profundo da mente onde eu posso ficar a salvo, onde lhe protejo com o meu calor, onde lhe protejo de mim mesma. Sinto teu coração, sinto-me dentro de tuas veias, percorrendo teu corpo todo, te alimentando, acariciando delicadamente todo seu eu.
   Num instante, descemos, sentamos na beira de um penhasco; as águas agitadas tentam alcançar nossos pés, inquietas, nos chamam, e uma voz sussurra: ''Pule do abismo.'' De olhos fechados, você se entregou aquilo, mas pediu para que eu esperasse, que voltarias com as águas tranquilas, voltarias na noite de lua cheia, voltarias quando meu corpo estivesse cansado.
  Te vi partires. Esperei em vários poentes ao pores de sol e da lua até perder a consciência de tempo. Senti ventos percorrendo meu corpo como se fossem tuas mãos procurando por mim. Observei nuvens e estrelas, tentando assim achar-te e proteger, observei os pássaros e suas canções, observei as árvores e as águas batendo nas pedras, com sussurros mínimos, e pouca esperança de que você voltaria, e nenhum sinal mais que eu tornaria a ser tua.
  Meu corpo foi apodrecendo, foi despedaçando, foi desmoronando - porém no meu íntimo havia algo que precisava viver. Com ajuda da natureza, todos restos mortais que em mim haviam foram abominados e reciclados.
   Na manhã mais ensolarada e fria que minha pobre mente pode lembrar-se, sentia-me pequenina como um feto, abraçada pela terra, alimentada pelo sol. Aprendi a sobreviver na selva, aprendi a plantar árvores, a amar os animais e cuidar das plantas. Embora todos os dias eu continuasse indo à beira do penhasco - ora querendo pular pra acabar com a dor que não havia silenciado, ora temendo as águas que haviam tirado você de mim, ora ignorando seus sons - já chegava a um ponto em que a conformidade estava abraçando meus sonhos e deliciando nos meus escombros.
  Quando eu já não conseguia mais caminhar, quando o pouco meus poucos sonhos ainda continuavam (tentando lhe gritar), deitei-me no mesmo lugar onde partistes, as águas silenciaram-se como num respeito aos meus últimos suspiros, e antes do meu último olhar para a profundidade do abismo, surgem tuas mão entre as águas soturnas, acariciaria meus cabelos; surgem teus olhos, fazendo-me reviver e num surto abraço teu pescoço beijo-lhe a testa e os olhos. Arrasta-me carinhosamente ao abismo, descemos em espirais, e na sensação novamente da água com nossos corpos, revivo. Deixo tudo para trás, renasço ao teu lado. Seguimos o caminho certo, e por fim, descansas sobre meu corpo e dorme teu melhor descanso - pois amanhã será um novo dia de descobertas.

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 o mais difícil da vida é vencer a si mesmo. o que isso significa? significa abdicar de prazeres momentâneos para colher um e se transformar...