Eles voltavam vagarosamente a incomodar-me. Durante a noite, rondavam meu colchão esperando que eu desse atenção aos seus ruídos, que eu olhasse direitamente para suas sombras que percorriam meu quarto e o corredor. A única que mais incomodava-me era quando eles sussurravam sobre você. Que eu estaria numa busca e um caminho errado. Que meu corpo não iria mudar. Que eu deveria amar a minha solidão, meus medos, tristezas.
  Eu chorava, chorava de raiva. Eu não queria escutá-los mais. Eu chorava porque era só esperar. Esperar o tempo que fosse pra ver mudanças acontecerem. Mudanças de verdade. Eu queria que você estivesse aqui, mas só o fato de desejar-te seria o suficiente para alimentar as vozes horripilantes que saíam das bocas malcheirosas dos monstros da minha mente.
 Por enquanto, eu não poderia me entregar a nenhum sentimento. Tudo isso atrapalharia. Eu deveria agir racionalmente, sentir racionalmente - pelos sentidos, não pelos sentimentos. Mesmo que isso me tornasse um pouco mais fria do que eu era (se eu alguma vez eu fui assim).
  Os sentimentos à flor da pele atrapalha a visão.
  Ou talvez seja apenas monstros brincando de minha consciência.
  Eu queria dormir um sono profundo. Eu queria descansar. Mas não posso descansar de mim. Não posso descansar ou ficar tranquila enquanto há coisas a me atacar.