Vivia seu teatro monótono. Mesmo gostando, em demasia das coisas que fazia, que trabalhava, estudava, as pessoas que convivia, era um teatro sobre a vida. Por isso, sentia, todas as noites, antes de dormir que, faltava algo para realmente viver, mostrar o que é a vida. Sair do teatro, ir para os bastidores, tirar a roupa da peça, a maquiagem e sair para a vida.
Possuía sonhos que não eram dele. Sonhos preestabelecidos (dos quais acreditava que era parte de sua essência) que se confundia, e demorava a acreditar naquilo. Com a vida feita, trabalho certo, deitava na cama, depois do trabalho, depois do banho, e da comida rotineira, olhava para o teto escuro do quarto, e refletia. Poderia estar tudo bem, deveria estar tudo bem, mas não estava. Faltava algo, sentia que precisava de algo.
Precisava de algo.
Saiu pela manhã, de um sábado qualquer, olhando a rua, observando pessoas, observando a natureza, os carros, o movimento. Até que, uma criatura chamou a atenção. Destacou-se naquela agitação. Seus olhos não conseguiam sair daquele ponto, da criatura, com olhos mais profundos e perplexos. Sentia a palpitação do coração, pensamentos acelerados, uma vontade imensa de ir, conversar, sentar ao lado, qualquer coisa que fosse, não poderia perder aquilo.
Subitamente, os olhos se encontraram, tentaram disfarçar, tentaram evitar, mas era mais forte que o corpo poderia suportar.
Tentaram algumas passadas um em direção ao outro, tropeçando nos próprios passos, esbarrando nos transeuntes, esquecendo do tempo, da vida que acontecia.
O mundo acontecia naquele olhar. A felicidade começava a brotar, instantânea e puramente. Tentaram, mais uma vez, bruscamente, ir um ao encontro do outro. Mas o corpo não obedecia. Uma linha, um muro, barreira não deixava chegarem perto. Trocar palavras que não sairiam, nem existiam. Retomaram seus caminhos (incertos), perderam-se.
De volta para casa, para realidade.
Observava tudo novamente, sentia uma melancolia maior do que a sua diária. Olhava para os pedintes na rua, jogava-lhe uns vinte reais, jogava o quanto de dinheiro tinha na carteira. Pois tudo o que ainda restava de são, estava falecendo no corpo. A peça teatral estava matando o corpo.
Largou o dinheiro, apostou nos sonhos alheios. Se não fosse dinheiro, o problema, tentava encorajar as pessoas. (E mal notava que os seus próprios - naquele olhar perturbador e magnífico - estava sendo esquecidos, novamente).
A mente inquieta, pelas ruas da cidade, procurava loucamente o olhar. O olhar que entendia, protegia, deixava bem e ao mesmo tempo, transbordando de uma sensação inédita, incompreensível. Queria novamente a sensação do olhar. De perder a noção temporal, rítmica do corpo. Eram naqueles olhos que ia aos bastidores para descansar de uma peça para a outra.
Aos poucos, foi abandonando a vida rotineira, os estudos, trabalhos, pessoas.. Saía do seu contexto para procurar o olhar.. Não queria nada mais. Precisava de nada mais. Não diante daquele olhar.
Cansado, triste, solitário. Sentou no banco afastado da praça. Cruzou as pernas, entrelaçou os dedos, olhando fixamente para o meio fio.
Sentou uma pessoa ao seu lado, da qual a presença começou a lhe incomodar. Não queria olhar para o lado pois estava centrado no seu mundo. Era uma necessidade, outra que, o corpo não poderia responder.
Olhou.
Os olhos negros, fitando-o. Espantou-se por um momento. Não sabia como agir. Reencontrou-os!
Que surpresa, que alegria, queria abraçar, queria guardar para si os olhos mais lindos, o olhar mais encantador, perplexo, sombrio, misterioso, meigo, simpático, aconchegante, acolhedor.
Um turbilhão de pensamentos rodava pela cabeça de ambos, fervia a mente. Mas não se conheciam, não sabiam nomes; Nada. O que sabiam um sobre o outro era o olhar, e nada mais.
E apenas com isso, sabiam que era o suficiente.
(...)
Possuía sonhos que não eram dele. Sonhos preestabelecidos (dos quais acreditava que era parte de sua essência) que se confundia, e demorava a acreditar naquilo. Com a vida feita, trabalho certo, deitava na cama, depois do trabalho, depois do banho, e da comida rotineira, olhava para o teto escuro do quarto, e refletia. Poderia estar tudo bem, deveria estar tudo bem, mas não estava. Faltava algo, sentia que precisava de algo.
Precisava de algo.
Saiu pela manhã, de um sábado qualquer, olhando a rua, observando pessoas, observando a natureza, os carros, o movimento. Até que, uma criatura chamou a atenção. Destacou-se naquela agitação. Seus olhos não conseguiam sair daquele ponto, da criatura, com olhos mais profundos e perplexos. Sentia a palpitação do coração, pensamentos acelerados, uma vontade imensa de ir, conversar, sentar ao lado, qualquer coisa que fosse, não poderia perder aquilo.
Subitamente, os olhos se encontraram, tentaram disfarçar, tentaram evitar, mas era mais forte que o corpo poderia suportar.
Tentaram algumas passadas um em direção ao outro, tropeçando nos próprios passos, esbarrando nos transeuntes, esquecendo do tempo, da vida que acontecia.
O mundo acontecia naquele olhar. A felicidade começava a brotar, instantânea e puramente. Tentaram, mais uma vez, bruscamente, ir um ao encontro do outro. Mas o corpo não obedecia. Uma linha, um muro, barreira não deixava chegarem perto. Trocar palavras que não sairiam, nem existiam. Retomaram seus caminhos (incertos), perderam-se.
De volta para casa, para realidade.
Observava tudo novamente, sentia uma melancolia maior do que a sua diária. Olhava para os pedintes na rua, jogava-lhe uns vinte reais, jogava o quanto de dinheiro tinha na carteira. Pois tudo o que ainda restava de são, estava falecendo no corpo. A peça teatral estava matando o corpo.
Largou o dinheiro, apostou nos sonhos alheios. Se não fosse dinheiro, o problema, tentava encorajar as pessoas. (E mal notava que os seus próprios - naquele olhar perturbador e magnífico - estava sendo esquecidos, novamente).
A mente inquieta, pelas ruas da cidade, procurava loucamente o olhar. O olhar que entendia, protegia, deixava bem e ao mesmo tempo, transbordando de uma sensação inédita, incompreensível. Queria novamente a sensação do olhar. De perder a noção temporal, rítmica do corpo. Eram naqueles olhos que ia aos bastidores para descansar de uma peça para a outra.
Aos poucos, foi abandonando a vida rotineira, os estudos, trabalhos, pessoas.. Saía do seu contexto para procurar o olhar.. Não queria nada mais. Precisava de nada mais. Não diante daquele olhar.
Cansado, triste, solitário. Sentou no banco afastado da praça. Cruzou as pernas, entrelaçou os dedos, olhando fixamente para o meio fio.
Sentou uma pessoa ao seu lado, da qual a presença começou a lhe incomodar. Não queria olhar para o lado pois estava centrado no seu mundo. Era uma necessidade, outra que, o corpo não poderia responder.
Olhou.
Os olhos negros, fitando-o. Espantou-se por um momento. Não sabia como agir. Reencontrou-os!
Que surpresa, que alegria, queria abraçar, queria guardar para si os olhos mais lindos, o olhar mais encantador, perplexo, sombrio, misterioso, meigo, simpático, aconchegante, acolhedor.
Um turbilhão de pensamentos rodava pela cabeça de ambos, fervia a mente. Mas não se conheciam, não sabiam nomes; Nada. O que sabiam um sobre o outro era o olhar, e nada mais.
E apenas com isso, sabiam que era o suficiente.
(...)
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