22/09/2013

    Aquela solidão grotesca que lhe consumia estupidamente. A alimentação rasa e vegana, que passava mal qualquer horário que fosse, forçava-se a ter 6 refeições diárias para que fosse possível realizar todos os sonhos já que a morte lhe viria em um processo natural e desistira de desejar-lhe todas as noites. No quarto mais distante da cozinha e da sala da pensão escondia-se no seu mundo, com inúmeros vícios (estúpidos), sem suportar as pessoas, mesmo tendo que usar a sociabilidade para ganhar o dinheiro que lhe seria útil em momentos futuros para distanciar-se de tudo e viver como sempre desejara. Tivera alguns amores durante a vida, do qual o último levou suas forças e aumentara sua repulsa pelas outras pessoas. Dedicara seu tempo e seus pensamentos todos aquele único amante que nunca lhe pertencera propriamente.
   Se amavam e rolavam pela cama às escondidas, à preço do amor que inflavamava mais ao peito de um do que de outro. Nunca trocaram presentes, fora alguns desenhos e algumas cartas malfeitas, outra nem entregues. Porém, muito antes de serem amantes, eram amigos, se tratavam como irmãos. Mas o corpo cegou a pureza daquele sentimento que não teria continuidade. Quando soubera que não poderia, de maneira alguma viver de fato aquele amor, esqueceu-se completamente da vida e dos sonhos que tanto renunciara, mas, que ainda sim alimentava durante as carícias noturnas. Foi desse momento em diante que resolveu viver para si.
   Melhorou a alimentação e os menores hábitos possíveis. Parou de temer as pessoas e sim a ter repugnância, se contradizia, pois a caridade e a justiça eram coisas naturais de sua essência. Decidiu esquecer seu amor e seu sentimentalismo com estudos e trabalhos e conseguir ser suficiente a si mesma, pelo menos ao fim de sua vida. Era uma pessoa exemplar em todos os aspectos de sua vida, exceto em sociabilidade e sorrisos. Vivia reclusa de pessoas e festas e qualquer tipo de música que tirava o espírito do estado de nobreza e tranquilidade, apesar de que na sua mente vivia um turbilhão de pensamentos tortos. Terminou o mestrado, conseguiu dinheiro suficiente para se mudar para longe de qualquer tipo de civilização, um sítio, onde cuidava de alguns animais e plantava tudo da qual sua alimentação requeria. Lá, estudava sua música, pois de alguma maneira aquilo tirava todas suas dores, e muitas vezes, concentrada, entrava num estado hipnótico, onde pensamentos fluíam fácil e rapidamente. Não os acompanhava, apenas permitia que brotassem.
   Aquela vida solitária e monótona no campo fora acomodando sua vida. Os meses passavam e como sempre. seu corpo pedia mudanças, mas não havia outro lugar onde quisesse estar, ali tinha tudo o que queria e tudo o que sempre sonhara... A não ser nos braços de seu antigo amante, que o deixara a sete anos sem notícias.
   O amor voltou a lhe incomodar.
   As plantas começaram a morrer, as hortaliças cresciam fracas, com pouca vida. Os animais que eram os seus únicos amigos passavam o dia triste, rodeando sua senhora sem entender, apenas sentindo o que seu coração gritava. Já não conseguia se concentrar em estudos, trabalhos, meditações ou qualquer outra atividade.
   Seus pensamentos, sua alma pedia incansavelmente seu amante... Do qual nunca esquecera-se das feições faciais, do cheiro corporal, da grave voz que fazia seu coração acelerar.
  Não sabia se recorria à cidade, procurando-o, ou se desfazia novamente daquilo - mas incomodava como nunca. Suas noites começaram a ser tempestuosas, com largos pesadelos, dos quais acordava aterrorizada pela morte dele. Passaram duas semanas, e as complicações aumentaram. Decidiu sair em busca de notícias.
   No hotel da cidade movimentada, tentava evitar as pessoas, e seus pensamentos quase faziam-na desistir da busca insana pelo antigo amor. Três dias na cidade pareciam três meses, e a coragem lhe faltava, o medo de procurá-lo e ser rejeitada consumia-a. Começou a fazer ligações. Foi fácil. O que não foi fácil foi escutar a voz pelo telefone e lembrar de tudo que havia passado. Sua voz trêmula tentava parecer madura e confiante, mas debulhou-se em lágrimas, e ele compreendeu que sua doce menina precisava do único abraço confortável, do único que permitia-se tocar e ser tocada.

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 o mais difícil da vida é vencer a si mesmo. o que isso significa? significa abdicar de prazeres momentâneos para colher um e se transformar...