Na fila pra comprar churros me disseram, em tom de brincadeira, que você estaria ali. Eu achei que era outra pessoa quando falaram seu nome.
Quando virei minha cabeça para trás e vi você. Aquele pinguinho de gente com um vestido bordô, coturno e seus lindos cabelos negros, combinando com a armação do óculos e a maquiagem, que me bambeou as pernas, fez meu coração pulsar mais rápido, fez meu humor ficar introspectivo. Você me olhou com seu olhar doce, me acenou com a mão direita, e eu acho que correspondi. Mas estava perdida nas minhas sensações que não sabia se ia te cumprimentar mais perto, ou se aquele aceno seria suficiente.
Claro que não fui te cumprimentar!
Fui correndo na quiosque falar com minha mãe. Devia ou não falar com você!? Você que me dá saudade, que quero abraçar e pedir desculpas...
Voltei pra fila do churros. Eu não fiz nada. E nem você estava lá. Eu fiquei te procurando, querendo te encontrar pra cair no seus bracinhos, e querendo não te encontrar pra não ter que passar por outra sensação horrível de novo.
E quando eu voltei pro quiosque onde minha trabalha, você estava lá. Falando com ela, querendo um abraço dela porque fazia tempo que vocês não se viam também.
Eu fiquei na porta, te admirando. Fiquei na porta decidindo se te abraçaria.
O abraço entre vocês terminou.
E ficamos, você e eu, cara a cara.
Pedi um abraço, e seu peito me recebeu carinhosamente. Mergulhei meu rosto no seu ombro, num abraço firme, te disse bem baixinho: "não acredito. que saudade que eu estava de você"
Com uma voz mais delicada do que eu me lembrava você perguntou se eu estava bem.
Nos afastamos, eu lacrimejando respondi: "Sim, estou bem."
Talvez as lágrimas não te convenceram. Segurou meu rosto com suas mãozinhas pequeninas, sua aliança de casada na mão esquerda, e seu anel de compromisso de caveirinha na direita: " Você está bem mesmo"
"Sim, é que fazia tempo que eu não te via."
"Você pode me ligar se quiser falar comigo, não tem problema."
"Tudo bem, mas eu não tenho seu número mais."
"É o mesmo de sempre, 9xxx-1xxx"
Fui correndo anotar em qualquer papel.
Mal conseguia olhar pra você, mas queria...
"Vem sentar ali conosco se quiser e der tempo, tá?"
"Obrigada, mas tenho que ajudar aqui."
Depois disso, um alívio percorreu meu corpo. Volta e meia eu ficava te olhando, sorrindo e etc. Lembrando de tudo o que vivemos, e da falta que você me fez...